ANÁLISE DAS OBRAS DE AFRÂNIO PESSOA


Selecionamos seis quadros para análise formal e iconográfica, segundo os elementos da linguagem visual detalhados no livro Universo da Ate, pois essas telas trazem particularidades que caracterizam todo o conjunto de pinturas que será exposto em 2003, pintadas com técnica mista.
Em Nossa Senhora do Carmo (1,16 x 1,15m) Afrânio pessoa pinta uma senhora de semblante plácido e sorriso discreto. Ela traz no colo o menino Jesus, suas mãozinhas abertas parecem um convite para abraçá-lo. Escapulários pendem das mãos de ambos e um sinal de santidade repousa sobre suas cabeças.[1]
Observando com atenção percebemos que o grupo pictórico está posicionado no centro da tela, formando um triângulo isósceles, cuja base está solidamente reforçada pelos extremos do manto que se espalha sobre o piso. Outros triângulos se multiplicam pelo espaço pictórico: um triângulo menor cuja base está inserida entre o escapulário pendente na mão direita da criança e a mão de Nossa Senhora. Outro menor ainda, invertido, circunscreve o rosto dela; os dois escapulários, assim como as coroas pintadas sobre suas cabeças, cabem todos dentro de pequenos triângulos também isósceles. O percurso visual que nosso olho faz tem início na coroa de Nossa Senhora do Carmo, fitamos seu rosto oblongo, tendo seus cabelos escondidos pelo véu. O Cristo-menino tem os braços abertos, prenunciando o seu gesto do fim, quando crucificado. Um trabalho minucioso se faz presente no acabamento pictórico que as imagens dos escapulários possuem. Outro detalhe precioso vê-se através das filigranas curvilíneas, quase imperceptíveis, no peitilho da veste de Jesus. Os arcos formados pelos braços de Nossa Senhora do Carmo encerram essa zona de interesse visual, principalmente devido à textura fantástica que envolve os mesmos: uma trama, quase uma renda, configurando um delicado brocado.
Linhas verticais repetem sistematicamente o movimento que o olho deve fazer percorrendo o manto. Enormes zonas coloridas repletas de pontos de cor que, preenchendo as superfícies, vão variando desde o branco, passando pelos tons pastéis, até o vermelho. O vestido pintado em marrom escuro acentua ainda mais a aura de retidão e simplicidade da virgem.
O chão é representado como um piso de pedras largas de textura rugosa. A tela é recortada em duas áreas, sendo que três quartos configuram a parede e um quarto, o piso. As linhas em branco recortam a parede em finos retângulos que correm de um lado ao outro da tela; estas linhas tomam-se cada vez mais largas, clareando a tela à medida que se aproxima da cabeça da santa. A superfície da parede apresenta-se com um baixo relevo que mais se assemelha a ramos de oliva.
As cores utilizadas na obra possuem uma disposição equilibrada: branco nas faces, cordões dos escapulários e véu; os tons terrosos permeiam a parede, o véu, o manto e o vestido; os tons cinzentos nos olhos, na veste do menino Jesus e nas pedras esquadrinhadas, na base da tela. O preto aparece delimitando pianos de cor, num processo pictórico conhecido como ‘cloisionismo’ assim, o preto está presente em toda a tela circunscrevendo o espaço ao redor das figuras e nas divisões de espaço entre elas, contornando e emoldurando as zonas de cor. O destaque colorístico fica por conta da predominância de tons terrosos.
[1] BARROS, Paulo. Fotógrafo Profissional residente em Teresina (PI).